sexta-feira, 30 de abril de 2010

O melhor destino gay do mundo

Fonte:
Revista Época
06/11/2009 - 22:54 - Atualizado em 06/11/2009 - 22:54

O melhor destino gay do mundo

RUTH DE AQUINO

RUTH DE AQUINO é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

O que faz de uma cidade o melhor destino gay do mundo? O Rio de Janeiro ganhou esse título na semana passada, numa eleição entre mais de 100 mil turistas homossexuais estrangeiros – e brasileiros. O critério decisivo é a receptividade. Turistas gays gostam mais das cidades que os recebem bem. Natural. Os héteros e bissexuais, brancos, mulatos e negros também. O ser humano detesta hostilidade e discriminação – por orientação sexual, gênero ou grupo étnico.
Alguns indignados na internet viram o resultado como “primeiro passo para a barbárie, a luxúria” ou “infâmia contra Deus e a família”. Eles não gostaram de saber que moram na cidade mais gay-friendly (amiga dos gays) do mundo. Felizmente, encolhe cada vez mais essa ala que cultiva o ódio à diversidade. Quanto mais homossexuais saírem do armário e conquistarem direitos civis, mais os que detestam gays se tornarão, eles sim, a minoria incorreta.
Se hostilizar negros é racismo punido com prisão, expulsar casal gay de restaurante por demonstração de carinho hoje dá multa ou fecha o estabelecimento. É lei municipal no Rio, criada em 1996 e regulamentada no ano passado. Mas, para fazer valer a lei, é preciso denunciar. Os gays contam com o apoio do governador Sérgio Cabral – ele disse achar “nojento” o preconceito contra pessoas que amam outras do mesmo sexo.

O Rio venceu a disputa com Barcelona, Buenos Aires, Londres, Montreal e Sydney. A eleição foi promovida pelo Logo, canal da MTV, no site TripOutGayTravel.com. Era em inglês, e quem escolheu foi o turista gay de fora, aquele que gasta o pink money (dinheiro rosa) cada vez mais cobiçado. Gays viajam mais, gastam mais por não ter filhos e têm mais tempo para se divertir.
Os números são espantosos. Segundo uma pesquisa encomendada pela prefeitura a uma universidade, os turistas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) permanecem no Rio um tempo 60% superior aos héteros e gastam, em média, o dobro de um turista convencional. Pela pesquisa, 97% dos estrangeiros gays pretendiam voltar ao Rio – uma consagração.
Por que a preferência pelo Rio? “Nosso lifestyle e a profusão de homens sexy”, me disse Carlos Tufvesson

E por que essa preferência? O estilista Carlos Tufvesson, casado há 15 anos com o arquiteto André Piva, me deu algumas razões: “A beleza da cidade, nosso charmoso lifestyle, a informalidade, poder andar de bermuda num centro cosmopolita. No verão do Rio, quem está de férias vai à praia sem ter ideia de onde e como vai terminar o dia, porque os programas surgem naturalmente. É fácil fazer amizade, o carioca é mais aberto, todo mundo tem amigos gays. E o Rio tem a maior profusão de homens sexy por metro de calçadão. Dá gosto ver a ginga e seu doce balanço a caminho do mar”.

Conversei também com a jornalista Daniela Barbi, que há sete meses vive com outra moça. “O carioca dá papo, indica os bares da moda para quem está acompanhado e sozinho. O turista gay vem por causa da simpatia e porque não sofre constrangimento. Tem sua praia com as bandeiras arco-íris e se sente normal. As lésbicas são um grupo mais fechado, mais discreto. Só em alguns lugares da Zona Sul vemos moças de mãos dadas. E são, sim, muito mais bonitas no Rio do que lá fora.”

Estive no mês passado em São Francisco, nos Estados Unidos. Não conhecia a cidade. Fiquei mais curiosa depois de ver Milk, o filme sobre o primeiro político americano a se eleger como homossexual (Harvey Milk, assassinado em 1978) e que rendeu um Oscar a Sean Penn. Fui ao bairro gay, o Castro. Era domingo de Carnaval. Eu me senti entrando num gueto homo – havia pouquíssimos héteros. Casais de lésbicas eram raros. Por ter enfrentado hostilidade e homofobia durante tanto tempo, uma parcela de homossexuais talvez se sinta impelida a ostentar seu orgulho ou a demonstrar uma alegria exagerada ou artificial. Persiste o desejo de afirmação, o Gay Pride. Em alguns, provoca o preconceito às avessas ou o assédio escancarado. Há gays que tentam nos convencer de que todos somos, no fundo, bissexuais enrustidos.

O mundo será melhor quando não precisarmos mais de Paradas Gays. Ou de praias, bares e hotéis só para homossexuais, como em Ipanema, no Rio.

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