sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Filme " Homem no Banho"

13/8/2010

Rui Martins, em Locarno (PÚBLICO) 

 
Christophe Honoré: "Para um realizador é uma boa questão: como representar a sexualidade?"
   
  Christophe Honoré e François Sagat falam à imprensa, em Locarno, sobre "Homem no Banho".

O público encheu a sala, no Festival de Locarno, esta semana, para "Homem no Banho", de Christophe Honoré. Aplaudiu e muitos participaram da conversa com o cineasta e com o actor, François Sagat.

O projecto inicial era um curta, a ser filmada na região de Gennevilliers, periferia considerada uma das mais "quentes" da região parisiense - em termos sociais e étnicos. Logo o realizador concluiu que deveria fazer um longa, e o filme tornou-se outra coisa.

Honoré quis rodear-se de amigos, no estilo de Andy Warhol, fazendo tudo da forma mais prática e segundo o desenvolvimento cronológico das cenas. François Sagat, actor que vem do cinema porno, assume que o que faz no filme é diferente do que costuma fazer. "Falar é uma experiência nova para mim, mas senti-me integrado, devido à forma livre da filmagem". Honoré lembra que nos primeiros dias o actor não se sentia à vontade (há críticos que notam numa sensação de distância revelada na expressão de Sagat.)

Uma prova da liberdade que dominou o projecto, segundo o realizador, é o facto de o filme integrar comentários sobre a realidade que se passava durante a rodagem: as notícias sobre o Vaticano e o escândalo dos padres pedófilos, por exemplo, com a ligação feita entre a pedofilia e a homossexualidade. "Tudo isso dá ao nosso filme a ideia de uma fotografia da realidade", diz o realizador.

A presença de filmes como "LA Zombie", do canadiano Bruce LaBruce, também com Sagat, e de "Homem no Banho", em competição em Locarno, significa uma mudança nos festivais?

"Nem a minha mãe e nem a irmã de François consideram o filme porno. Não é minha intenção fazer filmes pornográficos, mesmo se respeito que François, meu amigo, os faça. Digamos que o meu filme mostra as coisas de maneira mais crua. Na história do cinema tem havido etapas. Depois de 'O Império dos Sentidos' [Nagisa Oshima, 1976] e depois do filme de Catherine Breillat ["Romance, 1999] muita coisa mudou. Para um realizador é uma boa questão: como representar a sexualidade? É o caso de 'Ma Mère' [filme de Honoré], com Isabelle Huppert, adaptado de Georges Bataille, no qual se trata realmente de uma representação sexual, talvez ainda mais que 'Homem no Banho'. Mas em 'Homem no Banho' o objectivo era a homossexualidade, ter ao mesmo tempo as cenas cruas, sinceras, sobre a relações entre homens, e os sentimentos, uma espécie de virilidade em repouso. E aí fazer um filme diferente daqueles que fizeram Chéreau e Téchiné, que se confrontaram com tais situações."

Como reagiram os habitantes de Gennevilliers, em grande parte muçulmanos, como reagem os jovens da primeira e segunda gerações perante a rodagem?

Sagat: "Essa nova geração muçulmana não aceita, mas vive isso em segredo. É algo que se faz ou se sabe existir mas que se esconde. Não aceitam oficialmente mas têm satisfação por participarem directamente ou simplesmente vendo as filmagens."

Honoré não queria fazer um filme sobre o crescimento do islamismo, nem sobre a integração dos árabes, mas um filme sobre os homossexuais em Gennevilliers, que são jovens e que são mestiços biológicos e culturais.

"Não sei se é mais fácil ou mais difícil a um muçulmano ser um homossexual em Gennevilliers ou na Bretanha. Mas minha impressão é a de ter circulado por essa periferia livremente sem restrição social ao desejo. O meu filme não quer constatar uma situação, mas é uma ficção e atrás dela pode haver uma situação real."

Rui Martins, em Locarno (PÚBLICO)