terça-feira, 3 de agosto de 2010

O tempo como grande aliado

A Notícia - Jornal de Joinville

Redação de A Notícia

03.08.10

O tempo como grande aliado

Há quase dez anos, o tempo é o melhor amigo de Marcelo*. Foi seu principal aliado quando, ainda jovem, assumiu a homossexualidade e enfrentou a rejeição dentro de casa. O pai chegou a expulsá-lo quando soube da opção sexual do filho.

Marcelo viveu um intenso período de conflito familiar. Ainda hoje guarda resquícios dos sucessivos desentendimentos com o pai. "A primeira reação dele foi me expulsar de casa. Ele me tirou várias coisas. Por muito tempo eu só podia ir para casa para dormir. Minha mãe me ajudou nesse momento", lembra.

O seu grande desafio foi administrar o tempo, com paciência. "Eu percebi que não podia fazer nada, a não ser ter paciência e esperar", recorda.

O problema enfrentado por Marcelo se repete entre muitas pessoas que assumem a homossexualidade. São histórias de um preconceito que começa dentro de casa e, em alguns casos, terminam de forma dramática. "Ainda hoje, depois de tanto tempo, meu pai não conversa sobre o assunto comigo. Ele finge que não existe. Saí de casa, namoro há oito anos e só esse ano ele conheceu o meu marido", conta.

Para o psquiquiatra Telmo Kiguel, coordenador do Projeto Discriminação da Associação Brasileira de Psiquiatria e um dos palestrantes da Semana da Diversidade, é inevitável que situações como essas causem desgaste e sofrimento mental. "Briga com família, independente do motivo, sempre vai provocar tristeza. Às vezes, as coisas não saem como a pessoa espera e é preciso ter paciência", afirma.

De acordo com ele, não existe nenhuma fórmula para minimizar a dor desses momentos. "Mas hoje a sociedade aceita melhor esse tipo de situação. Os problemas são bem menores do que os que existiam um tempo atrás", acredita.

Segundo ele, quando os pais aceitam a sexualidade dos filhos, a dor provocada pelo preconceito fora de casa pode ser minimizada. "A família é um porto seguro nessas horas", reforça.