quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Bissexualidade, o sexo do futuro?

Bissexualidade, o sexo do futuro?

Fonte: http://www.cafeerevista.com.br

Cíntia está casada há onze anos e tem três filhos. Procurou terapia por se sentir confusa, sem saber o que decidir da sua vida. "Amo meu marido, sempre tivemos um ótimo sexo, e não quero me separar dele. Só que aconteceu algo totalmente inesperado. Nunca havia me passado pela cabeça que eu poderia me interessar por uma mulher. Só que conheci Cris e me apaixonei.

Começamos a fazer um curso de especialização juntas. Diversas vezes fui à sua casa fazer trabalhos do curso. Um dia, quase que por acaso, nos beijamos. Fiquei bastante assustada com meus próprios desejos, mas mesmo assim resolvi ir em frente. Estamos tendo uma relação maravilhosa, de muito amor e muito sexo. Às vezes, nem acredito que isso está acontecendo comigo."

As estatísticas mostram que a grande maioria já sentiu, de alguma forma, desejo por ambos os sexos. Pesquisas indicam que nos Estados Unidos mais de 40% dos homens casados, durante toda a vida de casados, se envolveram em sexo com outros homens. Entretanto, os que transam com os dois sexos sempre foram acusados de indecisos, de estar em cima do muro, de não conseguir se definir. Os heterossexuais costumam ver a bissexualidade como um estágio e não como uma condição alcançada na vida. Muitos gays e lésbicas desprezam os bissexuais acusando-os de insistir em manter os "privilégios heterossexuais" e de não ter coragem de se assumir. Não concordo com essas afirmações por me parecerem preconceituosas.

O fato é que nunca se falou tanto em bissexualidade como dos anos 90 para cá. A manchete de capa da revista americana Newsweek de julho de 1995 era: "Bissexualidade: nem homo nem hetero. Uma nova identidade sexual emerge." A atriz americana Jodie Foster teve seu desejo sexual por mulheres revelado num livro escrito por seu próprio irmão. Entrevistada pelos jornais, declarou: "Tive uma ótima educação, que nunca me fez diferenciar homens e mulheres." Essa discussão existe desde a década de 70. A Newsweek de 27 de maio de 1974 trouxe uma matéria em que a cantora Joan Baez declarava que um dos maiores amores de sua vida havia sido uma mulher e que, após quatro anos de relacionamentos exclusivamente lésbicos, estava namorando um homem.

Dois psiquiatras com pontos de vista opostos foram chamados a comentar o assunto. "A bissexualidade é um desastre para a cultura e a sociedade", proclamou um, enquanto o outro, presidente eleito da Associação Psiquiátrica Americana, anunciou: "Está chegando o ponto em que a heterossexualidade pode ser vista como uma inibição". Na mesma semana a revista Time descreveu num artigo chamado "Os novos bissexuais" os triunfos e os fracassos desse fenômeno sexual, indo das biografias de atrizes e escritores consagrados ao surgimento de romances, memórias e filmes bissexuais.

Seríamos todos bissexuais dependendo apenas da permissividade da cultura em que vivemos? O pesquisador americano Alfred Kinsey acredita que a homossexualidade e a heterossexualidade exclusivas representam extremos do amplo espectro da sexualidade humana. Para ele a fluidez dos desejos sexuais faz com que pelo menos metade das pessoas, sintam, em graus variados, desejo pelos dois sexos. Em 1948, ele desenvolveu a famosa escala Kinsey para medir a homo, a hetero e a bissexualidade. Entrevistando doze mil homens e oito mil mulheres, elaborou uma classificação da sexualidade de zero a seis:

(0) Exclusivamente heterossexual.
(1) Predominantemente heterossexual, apenas incidentalmente homossexual.
(2) Predominantemente heterossexual, mais do que eventualmente homossexual.
(3) Igualmente heterossexual e homossexual.
(4) Predominantemente homossexual, mais do que eventualmente heterossexual.
(5) Predominantemente homossexual, apenas incidentalmente heterossexual
(6) Exclusivamente homossexual.

Na pesquisa feita pelo americano Harry Harlow, mais de 50% das mulheres, numa cena de sexo em grupo, se engajaram em jogos íntimos com o mesmo sexo, contra apenas um por cento dos homens. Entretanto, quando o anonimato é garantido a proporção de homens bissexuais aumenta a um nível quase idêntico.

Muitos afirmam que romperiam um namoro ou casamento se descobrissem que seus parceiros são bissexuais. Mas isso é uma questão cultural, portanto, passível de mudança. Na Grécia Clássica (século V a.C.) a iniciação sexual de um jovem se dava com o seu tutor. E era considerado natural que os cidadãos gregos casados e respeitáveis tivessem relações sexuais com as esposas, as concubinas, as cortesãs e os efebos (jovens rapazes).

A respeitada antropóloga Margareth Mead declarou: "Acho que chegou o tempo em que devemos reconhecer a bissexualidade como uma forma normal de comportamento humano. É importante mudar atitudes tradicionais em relação à homossexualidade, mas realmente não conseguiremos retirar a carapaça de nossas crenças culturais sobre escolha sexual se não admitirmos a capacidade bem documentada (atestada no correr dos tempos) de o ser humano amar pessoas de ambos os sexos."

Marjorie Garber, professora da Universidade de Harvard, que elaborou um profundo estudo sobre o tema, compara a afirmação de que os seres humanos são heterossexuais ou homossexuais às crenças de antigamente, como: o mundo é plano, o sol gira ao redor da terra. E pergunta: "Será que a bissexualidade é um 'terceiro tipo' de identidade sexual, entre a homossexualidade e a heterossexualidade — ou além dessas duas categorias?" Acreditando que a bissexualidade tem algo fundamental a nos ensinar sobre a natureza do erotismo humano, ela sugere que em vez de hetero, homo, auto, pan e bissexualidade, digamos simplesmente 'sexualidade'.

Será que o amor pelos dois sexos se tornará uma opção cada vez mais comum a ponto de predominar? A bissexualidade, como muitos afirmam, será mesmo o sexo do futuro?