quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O que é ser um homossexual...

O que é ser um homossexual...



Texto: Helena Paix
Em outubro de 2007 foi lançada na Itália uma campanha publicitária, em forma de cartaz (imagem acima), que trazia a foto de um bebê recém-nascido com uma pulseirinha, típica daquelas de hospital, na qual dizia em letras maiúsculas: HOMOSSEXUAL. Escrita no cartaz da foto estava a frase: "A orientação sexual não é uma escolha".

A campanha gerou enorme polêmica e foi proibida de ser veiculada em várias regiões do país, grupos religiosos também organizaram protestos e foram decisivos para a censura da campanha.
A questão é que, goste-se ou não, cada vez mais a ciência vê a homossexualidade como um traço biológico como outro qualquer, como o que faz a pessoa ser alta ou baixa, ter olhos escuros ou claros. E, assim como a altura final de uma pessoa, às vezes se passam muitos anos até que a pessoa se perceba homossexual.

Por que isso acontece? Porque não somos criados para a possibilidade de sermos homossexuais. Nossos pais, quando pensam em construir uma família, sonham com o menininho de azul ou com a menininha de rosa – nada na nossa conjuntura social e cultural aponta para a possibilidade daquele bebê ser homossexual. E tantos são! Desde o nascimento! E foi isso o que essa campanha italiana tentou mostrar.

À medida que vamos crescendo, no entanto, por conta do nosso contexto familiar e social, por tudo o que vão nos ensinando ou pelo que vamos percebendo do mundo à nossa volta, muitas vezes a nossa homossexualidade vai sendo 'enterrada' para o mais fundo do nosso ser – na maioria das vezes inconscientemente. Outras vezes, percebemos desde pequenos que somos diferentes do restante, mas percebemos também que nunca devemos deixar que alguém perceba isso.

E o que acontece é que chegamos à adolescência com um 'estranhamento social': nos sentimos diferentes da maioria das pessoas; muitas vezes nos sentimos 'sem canto no mundo', como se não nos encaixássemos em lugar algum, como se fôssemos um "ET" em nosso próprio planeta. E às vezes muito tempo se passa sem que saibamos por que nos sentimos assim.

E seja na pré-adolescência, seja na adolescência, seja no começo da juventude ou nos anos mais maduros, às vezes devagarzinho, ou às vezes como uma iluminação, descobrimos que somos, na verdade, homossexuais.

Essa descoberta, na maioria dos casos, assusta. Diversas vezes passamos a negar isso em nós porque sabemos que é algo não aceito, que é algo rejeitado pela família, sociedade e religião. Um conflito interno começa – e esse caminho é muitas vezes percorrido sozinha(o).

De acordo com a escritora e pesquisadora Edith Modesto em seu livro Mãe sempre sabe? : "A orientação sexual é um dos componentes da sexualidade humana. Essa orientação do desejo não é uma escolha e não é aprendida. A pessoa se percebe heterossexual, homossexual ou bissexual" (Pág. 56).

A questão é que os modelos heterossexuais estão em todo o nosso redor: dos outdoors, à televisão, em nossa casa e em nossa família, nos livros (inclusive infantis) e nos filmes. Ao passo que os modelos homossexuais são sempre clandestinos e/ou estereotipados – tido como errados e pecaminosos.

Então fica inculcado na mentalidade das pessoas que há algo de anormal nas pessoas que se interessam por outras do mesmo sexo, quando na verdade isso existe desde que o mundo é mundo justamente por ser algo natural, pertencente à natureza humana, um traço genético como tantos outros.

Uma confusão que há quando se define homossexualidade é o pensamento instantâneo em relação ao sexo: mulher transando com mulher, homem transando com homem. Mas ao simplificar grosseiramente assim os homossexuais, perde-se a grande essência que nos forma: na realidade, nos apaixonamos, nos encantamos, por pessoas do mesmo sexo.

Ao perceber-se isso, ao tomar-se conhecimento que na realidade o que está envolvido não é apenas desejo, mas sentimento, afeto, pode-se começar a entender que ser homossexual realmente não é uma escolha.


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