quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A Cama na Varanda: Descobrindo-se gay - POR REGINA NAVARRO LINS


A Cama na Varanda: Descobrindo-se gay

POR REGINA NAVARRO LINS
 
Rio - É um tormento. O jovem se sente diferente, sozinho, não compartilha dos mesmos interesses do grupo de amigos, mas não sabe ao certo o que se passa com ele. É na adolescência que a orientação afetivo-sexual começa a ser percebida. E é muito difícil aceitar a ideia de que seu desejo e suas fantasias sejam dirigidos a outro homem. Tenta negar sua homossexualidade, pois teme não ser aceito pela família, pelos amigos e por si próprio. Com quem vai conversar? E se não for compreendido? Na realidade, o problema não é ser homossexual, e sim viver numa sociedade que associa masculinidade à heterossexualidade e discrimina os homossexuais.

A homossexualidade já foi considerada crime e duramente castigada, assim como todas as práticas que não levam à procriação. Depois passou a ser visto como doença a ser tratada. O surgimento da pílula anticoncepcional, na década de 1960, ao permitir a dissociação entre o ato sexual e a reprodução, melhorou muito a situação dos gays. A partir daí as pessoas podiam fazer sexo exclusivamente pelo prazer. Os gays, que nunca tiveram outro objetivo, foram beneficiados socialmente e puderam sair da clandestinidade. Afinal, as práticas homo e hetero nesse aspecto se aproximaram. E em 1973, a Associação Médica Americana retirou a homossexualidade da categoria de doença.

Entretanto, 40 anos depois, ser gay continua não sendo nada fácil para a maioria. A razão mais significativa da hostilidade dos homens heterossexuais é o temor dos seus próprios desejos homossexuais. Eles aprendem desde cedo a negar características de sua personalidade que não são consideradas masculinas e, portanto, indicariam fraqueza. O contato com o gay pode despertar angústia em muitos homens, por perceber no outro o que tentam negar em si próprios: sensibilidade e passividade

Para um gay viver tranquilo e desenvolver todo seu potencial afetivo, sexual e profissional, ele tem que se libertar das proibições que são sociais, mas que acabam sendo internalizadas em cada um. Precisa aceitar que faz parte de uma minoria, discriminada por uma sociedade hipócrita.

A famosa frase de Leonardo Matlovich não deixa dúvida quanto a isso: "A Força Aérea me condecorou por matar dois homens e me expulsou por amar um." Soldado da Força Aérea Americana, ele foi condecorado por sua atuação na Guerra do Vietnã e, em 1975, expulso da corporação por ser homossexual.

Quando as pessoas vão entender que a sexualidade aceita e considerada normal nada mais é do que um estilo de vida entre vários outros possíveis?

Na realidade, o problema não é ser homossexual, mas viver em sociedade que discrimina os homossexual.